O céu de hoje, o que o tinge, irmã, é algo místico;
sempre o é, mas esse é o ovo de dentro do ovo;
os outros seis dias são apenas ovos
desprovidos de uma segunda casca.
Desse ovo, abstrato, provém
uma, nua de átomos, gema, que
ao fundir-se às cores, altera-as
sem ao menos modificá-las.
Vá à feira e certifique-se.
Um morango,
experimentando-o, notarás
que tal substância
possui consórcio também
com o odor e o paladar –
leve uma dúzia da fruta e
(nobre experiência)
saboreie outra amanhã.
Agonizar agora não seria como
agonizar em uma quinta;
a dor seria tão pungente quanto;
mas quinta, deveras,
tudo é átomo: não há brechas.
Hoje elas são possíveis -
talvez porque Deus dormira.
Repare no andar deste carroceiro:
É igual e diferente; paradoxalmente exato;
tão óbvio que não causa dúvidas
nem suscita questões.
Considere nosso ignóbil cão:
Tenta, em vão, como o fizera ontem e
certamente o fará amanhã, morder o rabo;
não terá sucesso em sua empresa,
mas, como por feitiço da data
o faz de forma distinta.
Mas o que engorda o jornal
não vem desse ovo, irmã:
Homem procura casal; Fluminense,
desfalcado de sua maior estrela,
enfrenta o líder em casa; Sinfonia para o povo
no parque do Ibirapuera;
Caderno Infantil; Aluga-se chácara para
natal e ano novo; "Mestres da
Literatura Portuguesa" - penúltimo
fascículo.
Ao passo que, Domingo, irmã,
é menos calendário que metafísica.
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