terça-feira, 6 de outubro de 2009

Menos calendário que metafísica

O céu de hoje, o que o tinge, irmã, é algo místico;

sempre o é, mas esse é o ovo de dentro do ovo;

os outros seis dias são apenas ovos

desprovidos de uma segunda casca.

Desse ovo, abstrato, provém

uma, nua de átomos, gema, que

ao fundir-se às cores, altera-as

sem ao menos modificá-las.

Vá à feira e certifique-se.

Um morango,

experimentando-o, notarás

que tal substância

possui consórcio também

com o odor e o paladar –

leve uma dúzia da fruta e

(nobre experiência)

saboreie outra amanhã.

Agonizar agora não seria como

agonizar em uma quinta;

a dor seria tão pungente quanto;

mas quinta, deveras,

tudo é átomo: não há brechas.

Hoje elas são possíveis -

talvez porque Deus dormira.

Repare no andar deste carroceiro:

É igual e diferente; paradoxalmente exato;

tão óbvio que não causa dúvidas

nem suscita questões.

Considere nosso ignóbil cão:

Tenta, em vão, como o fizera ontem e

certamente o fará amanhã, morder o rabo;

não terá sucesso em sua empresa,

mas, como por feitiço da data

o faz de forma distinta.

Mas o que engorda o jornal

não vem desse ovo, irmã:

Homem procura casal; Fluminense,

desfalcado de sua maior estrela,

enfrenta o líder em casa; Sinfonia para o povo

no parque do Ibirapuera;

Caderno Infantil; Aluga-se chácara para

natal e ano novo; "Mestres da

Literatura Portuguesa" - penúltimo

fascículo.

Ao passo que, Domingo, irmã,

é menos calendário que metafísica.

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