quarta-feira, 30 de março de 2011

Memória é invenção de Memória

Em cada foto uma alucinação.
Há beleza: o absurdo entregar-se a ela.
O bebê que fui viaja no vão -
não está na moldura que a pose amarela.

Cidadão das nuvens
Renato Silva

Veja esse Som




A versão do CD, com os filhos do casal cantando ficou melhor ainda. A filhinha da Takai cantando é aquela coisa fofa. Mas os bichinhos mandam bem ...

domingo, 27 de março de 2011

Poesia Circense



Homem bala balão
munição
explosão

mil pirralhos no circo
um anão
(criançancião)

Dois pi raio no círculo
do canhão

Pipoca aplauso na mão
redenção
não em vão

Mil pirralhos no circo
Alusão
à ilusão

Dois pi raio no círculo
do leão

Para o acro bata bata palmas
para o palha asso asso bie
e o mági como como pode:
ele tirava
um coelho
ou era eu
que tirava um bode?

O dom e a dor vêm de Deus
Deus vem de domador
Ombros do mundo: os meus
pois sou poeta ator

Por escrever poesia
sou trapezista palhaço
entre o chicote e a magia
do domador do espaço
Será que Deus chicotearia
fosse um João sem braço?

Por escrever poesia
sou bailarino mágico
no picadeiro dos dias
entre o aplauso e o trágico
mas Deus é só alegria
na queda é cama de elástico.


Cidadão das nuvens

Renato Silva

O abacate


O abacate projeto.
O abacate conceito.
Ainda sem cor e forma.

O abacate rascunho.
Ainda sem sabor.
Antes do primeiro abacateiro desse mundo.

O abacate na cabeça de Deus :
uma idéia a concretizar- se.

Cidadão das nuvens
Renato Silva

domingo, 6 de março de 2011

Para Cazuza musicar



A procura do sonhado paraíso
sempre acaba no primeiro inferninho.
Marionete de um furacão, aviso :
eu compro a briga de quem pagar o vinho.

Nuvens sempre hão de ser meu piso.
Mal-acompanhado, sigo sozinho;
sabendo que sou reza, sou riso
e nada sei (o que é saber um pouquinho).

Acredito em Deus, ele em mim.
Para onde vou, não sei, sei que vim
encarar o medo, tête-à-tête.

Nunca paro antes do fim;
acredito nos que dizem sim:
a puta, o padre, o pivete.



Cidadão das nuvens

Renato Silva

sexta-feira, 4 de março de 2011

Boa noite

Não durma com os anjos, anjo:

eles nunca mais

seriam os mesmos...

Cidadão das nuvens

Renato Silva

Veja esse som

Útero e Algoz

Útero e algoz

Costurei um vudu
à sua imagem e semelhança
(para uso caseiro)
com a agulha
(útero e algoz)
que encontrei no palheiro

Por um erro de cálculo
saíste melhor e a encomenda
de uma multinacional
não tardou a chegar

O meu, sucesso de vendas
em toda a América Latina,
há de ter
concorrente à altura.

Poesia também é letra




















(Heroin - Velvet Underground)

Eu não sei exatamente onde estou indo
Mas eu estou tentando pelo reino, se eu puder
Porque isto faz me sentir como se fosse um homem
Quando eu coloco a agulha na minha veia
E eu direi a você, as coisas não são mais as mesmas
Quando eu estou apressado em minha corrida
E eu sinto como se fosse filho de jesus
E eu acho que eu simplesmente não sei
E eu acho que eu simplesmente não sei
Eu tenho que fazer a grande escolha
Eu estou tentando destruir minha vida
Porque quando o sangue começar a jorrar
Quando isto atirar e o pescoço pender
Quando eu estiver chegando perto da morte
E você não pode me ajudar agora, você cara
E todas suas doces meninas com suas doces conversas
Você todos podem ir dar uma volta
E eu acho que eu simplesmente não sei
E eu acho que eu simplesmente não sei
Tomara que eu renasça mil anos atrás
Tomara que eu esteja navegando no mar escurecido
Em um grande barco a vela
Indo desta terra aqui para aquela
Em uma roupa de marinheiro e chapeu
Longe da cidade grande
Onde um homem não pode ser livre
De todo o mal desta cidade
E dele proprio, e daqueles a sua volta
Oh, e eu acho que eu simplesmente não sei
Oh, e eu acho que eu simplesmente não sei
Heroina, é a morte para mim
Heroina, isto é minha esposa e isto é minha vida
Porque um caminho para minha veia
Conduzindo ao centro da minha cabeça
E então eu estarei melhor e morto
Porque quando o beijo começa a correr
Eu realmente não me preocupo com mais nada
Com todos os Jim-Jim's dessa cidade
E todos os políticos fazendo sons malucos
E todo o mundo colocando os outros pra baixo
E todos os corpos mortos empilhados em montes
Porque quando o estalo começa a fluir
Então eu realmente não me preocupo com nada
Ah, quando a heroina esta no meu sangue
E este sangue está na minha cabeça
Então agradeço a Deus que estou tão melhor morto
Então agradeço a Deus que eu não estou sabendo
E agradeço a deus que eu apenas não me importo
E eu acho que eu siplesmente não sei
E eu acho que eu simplesmente não sei



Ps: A letra não foi retirada do livro; dá net, mas é fiel à causa.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Dentro da prancha do menino eu vou



Dentro da prancha do menino eu vou
correr atrás do meu destino
semana atrás um outro despencou
vendia Bis biscoito de polvilho

Dentro da prancha do menino eu vou
no balançar dos trilhos

Dentro da prancha do menino eu vou
ferrorama de quem não tinha
comida só peixe peixinho
caco-de-vidro para o fim da linha

Dentro da prancha do menino eu vou -
se ele ficar a prancha vai sozinha

Lugar reservado a quem arrisca:
é proibido não fumar no vagão da faísca
é proibido surfar mas ele nem liga
tira onda é o rei é o rei da barriga

Fosse o seu filho
tivesse outro pai
ou pelo menos um

que não se embriagasse
para fazer mansão
barraco de favela

Dentro da prancha do menino eu vou
tentar a sorte nessa vida
Para comer melhor, para beber melhor
para comer sem acabar comida

Dentro da prancha do menino eu vou:
entre a fé e a ferida

Dentro da prancha do menino eu vou
com a multidão sem rosto
São Silvas sim Silvas de quem
renomeia a gosto

Dentro da prancha do menino eu vou
comprar Mentex Chokito com troco

Para quando o guarda estiver
silêncio ao invés do Sufflair
lição ao invés do recreio
dentro da mochila: receio

Fosse a sua mãe
sem pai de sustentar
a mulher e os filhos

Que crescem crescerão
a Deus dará só
não se sabe o dia..


Cidadão das nuvens
Renato Silva

O nome da rua



Durante uma tempestade,
escolher, aleatóriamente,
um ônibus na Avenida Paulista.

Contar os passageiros:
três, descer no terceiro ponto;
sete, no sétimo;
dez ou mais, no décimo ponto.

Observar quantas pessoas
abandonarão o transporte
em minha companhia;
multiplicar o número dessas
(trata-se de um ritual noturno)
ao total de estrelas que constatarei.

O produto dessa sentença indicará
a quantidade de vezes que gritarei,
a plenos pulmões,
o nome da rua aonde
minha loucura pousará.


Cidadão das nuvens
Renato SIlva

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Para que o tempo pare agora




Minha antena a captar
o que dá na telha
de te perder o ar
de te achar vermelha...


O cupido: Ocupado ou culpado?
Tanto faz se acertei e meio...
a maçã do seu rosto rosado -
esse prato cheio.


Para que o vaga lume tome partido
e o bebê não alcance a chupeta
e a pena a cair se imponha
e o sorveteiro retarde o troco
e a areia beija flor flutue
e a onda se mantenha na onda
Para que o tempo pare agora...
Para que o tempo pare agora...


Mebei-Já, Mebei-Já,Mebei-Já :
Porque seu rosto não me sai da cabeça -
penteado que só quero que cresça...


segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Poesia também é letra

Pato Fu - Uh Uh Uh, Lá Lá Lá, Yeh Yeah

As pessoas têm que acreditar
Em forças invisíveis pra fazer o bem
Tudo que se vê não é o suficiente
E a gente sempre invoca o nome de alguém

Uh Uh Uh, La La La, Ié Ié!
Uh Uh Uh, La La La, Ié Ié!
Uh Uh Uh, La La La, Ié Ié!
Ié Ié!

Acho muito caro que ele tá pedindo
Pra eu ter muito mais sorte menos azar
Acho muito pouco o que tenho no bolso
Pra ver o sol nascer não tem pagar

Uh Uh Uh, La La La, Ié Ié!
Uh Uh Uh, La La La, Ié Ié!
Uh Uh Uh, La La La, Ié Ié!
Ié Ié!

É certo que milagre pode até existir
Mas você não vai querer usar
Toda cura para todo o mal
Está no Hipoglós, no Merthiolate, Sonrisal
Quem tem a paz como meta
Quem quer um pouco de paz
Que tire o reboque que espeta
O carro de quem vem atrás

É certo que milagre pode até existir
Mas você não vai querer usar
Toda cura para todo o mal
Está no Hipoglós, no Merthiolate, Sonrisal
Quem tem a paz como meta
Quem quer um pouco de paz
Que tire o reboque que espeta
O carro de quem vem atrás

Uh Uh Uh, La La La, Ié Ié!
Uh Uh Uh, La La La, Ié Ié!
Uh Uh Uh, La La La, Ié Ié!
Ié Ié!



Veja esse som

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Prazer! - Árvore



Após o enterro nasço criatura.
Flores de vida não de sepultura.
Me alimento da terra e do céu.
Trato com o sol e as profundezas do fel.

A minha sombra é deleite.
Na chuva mamo meu leite.
No outono fico careca.
Primavera não: Meca.

Meu coração não é só meu.
É da Adriana é do Eliseu.
Minha raiz é um enrosque.
Com meus convivas sou bosque.

Solitária sou desmatamento.
Tenho acordo com o vento:
Dou lhe forma ele me espalha a semente -
assim parada ainda sigo em frente.